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Repam: Desafios e perspectivas para 2021

28/12/2020
Amazônia
O Irmão João Gutemberg, secretário executivo da Repam, fala sobre os projetos para o próximo ano

​Ir. João Gutemberg Sampaio - Secretário Executivo da Repam* 


Ao apresentar sua Exortação Apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, o Papa Francisco salienta: a Querida Amazônia apresenta-se aos olhos do mundo com todo o seu esplendor, o seu drama e o seu mistério. (QA,1) 

Esplendor e mistério são temas que nos fazem contemplar o belo e perscrutar a imensa sabedoria de Deus ao criar tamanha maravilha, tanto no ser humano quanto em todo o ambiente no qual nos movemos e somos. Encanto e beleza nos tensionam, impulsionam e entusiasmam na pulsão do existir e no anseio de garantirmos as melhores condições de vida para tudo e para todos, o ideal do bem viver. 

Mas a beleza da criação de Deus sofre constantes ameaças. Os acelerados e gulosos modelos de desenvolvimento que se baseiam na exploração vertiginosa dos bens da natureza, os transformam em recursos comercializados em favor de poucos. Nesse acelerado processo de desenvolvimento, baseado no extrativismo depredador, aprofunda-se a degradação ambiental – com forte impacto nas mudanças climáticas, no aquecimento global com suas graves consequências  – e a exclusão social. 

documento de Aparecida proclama que a Amazônia é um espaço de vida importante para a existência e o futuro de toda a humanidade. (Cf. DAp, 475). Sabemos que, no grande ecossistema amazônico, vida possui uma tessitura harmoniosa que tudo integraos seres humanos com sua sabedoria milenar e uma espiritualidade conectada com as fontes da existênciaflora, fauna, os micro-organismos, terra, a água, o ar e tantos elementos da nossa rica sócio-bio-diversidade. 

Uma importante contribuição da Igreja para a elaboração de uma agenda positiva comprometida com o cuidado e a defesa dos povos e do ambiente amazônico, foi a criação, em setembro de 2014, da Rede Eclesial Panamazônica (Repam). Traz como lema: Panamazônia: fonte de vida no coração da Igreja! 

A Repam procura dinamizar a conectar as iniciativas da Igreja no tocante à ecologia integral nos nove países que compõem a grande Amazônia: Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Brasil, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. Além dessa conexão regional, a rede se conecta em nível internacional com outras organizações afins tendo em vista que a “conversão ecológica” é uma urgência global. 

A Congregação Marista tem atuado na dinamização da rede desde a sua origem. Vários Irmãos e Leigos/as colaboram em espaços de sua missão. No dia 14 de setembro de 2020, após aprovação do Conselho Provincial, fui nomeado como novo secretário executivo. 

A missão que se descortina para os próximos anos, baseia-se em um intenso processo de discernimento realizado nos últimos meses e que envolveu os principais articuladores da RepamLevamos em conta o novo contexto planetário e amazônico, o processo sinodal em sua preparação e implementação e a pandemia de Covid-19. Compartilho três dos principais desafios 

1. Vínculos com os povos amazônicos e seus territórios 

Somos chamados pelo Espírito a comprometermo-nos como Repam desde a nossa missão, respondendo, na medida das nossas possibilidades, às necessidades, fragilidades e ameaças dos territórios e dos povos, em particular dos indígenas, através da inserçãoencarnação, acompanhamento, escuta dos gritos da terra e dos povos, na defesa e reconhecimento de sua autonomia, autogoverno e seus direitos individuais e coletivos e de lideranças ameaçadas.

2. Identidade da Repam como Rede Eclesial 

O Espírito nos desafia a seguir cultivando, cuidando e fortalecendo a nossa natureza de Rede, encarnada no território, sem perder a perspectiva global. Alimentar uma espiritualidade e mística amazônicas, com olhar contemplativo e em comunhão e diálogo intercultural. 

Precisamos desenvolver novas formas de missionariedade como Igreja ministerial, de presença, itinerante e em saída, como, por exemplo: retomar os compromissos que surgem do documento final do Sínodo e dos sonhos da “Querida Amazônia” que dizem respeito à Repam em termos de conversão integral e diálogo, e também, desenvolver processos de gestão e atenção ou assistência humanitária, solidária e psicológica nestes tempos de pandemia (hospital de campanha), promovendo, por sua vez, espaços de reflexão e formação. 

 3. Transição, estrutura e secretaria executiva 

Precisamos de uma Secretaria ágil e leve, que esteja totalmente envolvida no processo Sinodal e o que ele significa, pensando a Amazônia a partir da própria Amazônia e que esteja em escuta permanente dos territórios, promovendo, acima de tudo, o protagonismo dos povos e a defesa de seus direitos com suas espiritualidades, cosmovisões e místicas. 

Que a Secretaria Executiva seja uma ponte, articule e conecte os diversos níveis local/global, as Repams nacionais e os Eixos e, agora, com a Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama), contribua na definição da relação com a mesma e seus papéis.  

 

Eis alguns dos horizontes da rede eclesial cuja secretaria executiva se encontra em processo de estabelecimento em Manaus, com o apoio, dentre outros, da comunidade e da Rede Marista.


*Artigo publicado originalmente no dia 15/12 na edição 3/2020 da Circular Provincial.