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PUCRS divulga pesquisa sobre situação de estudo e trabalho dos jovens gaúchos

16/08/2024
Institucional
Conforme levantamento, quase 10% dos jovens do Estado não estudam nem participam do mercado de trabalho

​​​​​​​​​​​​​​​​​O Observatório Juventudes PUCRS/Rede Marista e o PUCRS Data Social produziram uma pesquisa sobre a situação de estudo e trabalho dos jovens gaúchos, com idades entre 15 e 29 anos. Conforme o levantamento, no ano de 2023, dos cerca de 2,3 milhões de indivíduos dentro da faixa etária analisada (20% da população do Rio Grande do Sul), 17,6% se dedicavam apenas aos estudos, 19,9% estudavam e trabalhavam, 52,7% somente trabalhavam, e 9,9% não estudavam ​nem participavam do mercado de trabalho. Esse último percentual representa 229 mil jovens gaúchos daquele ano.

No Brasil como um todo, o percentual de jovens sem estudar ou trabalhar é mais alto: média de 15,1%. Estados como o Mato Grosso seguem a média nacional, com 15,5%. Outros estados, como o Amazonas, superam a média, atingindo 20%.

Contudo, ao analisar a série histórica do Rio Grande do Sul, iniciada em 2012, percebe-se que houve pouca variação nos resultados, sem tendências de redução significativas na proporção de jovens que não estudavam nem trabalhavam. Além disso, na atualidade, o cenário é agravado quando verificados recortes específicos. Entre os jovens gaúchos negros, 12,3% não estudavam nem trabalhavam, em 2023. Entre o público branco, o percentual foi de 8,9%. 

Considerando a renda domiciliar, a desigualdade é ainda maior. No grupo dos jovens entre os 20% mais pobres do Rio Grande do Sul, 22% não estudavam nem trabalhavam. Já entre os 20% mais ricos, a cifra diminuiu para 3,1%. No recorte das jovens mulheres, o percentual das que não estudavam nem trabalhavam foi de 13,4%, enquanto entre os homens ficou em apenas 6,4%. 

Quanto aos jovens gaúchos fora das instituições de ensino e do mundo do trabalho, o Prof. Dr. André Salata, coordenador do PUCRS Data Social, afirma: "a juventude é caracterizada por um momento chave na transição para a vida adulta, durante a qual as instituições de ensino e o mercado de trabalho desempenham um papel fundamental. Chama atenção, no entanto, que, mesmo no Rio Grande do Sul, um dos estados mais desenvolvidos do país, quase 10% dos jovens não estudam nem trabalham. De um lado, o sistema de ensino não consegue manter os jovens por tempo suficiente para uma melhor qualificação. Do outro lado, o mercado de trabalho não é capaz de absorver essa mão de obra adequadamente. O resultado, então, são milhares de jovens em uma situação que possivelmente terá efeitos muito negativos em suas trajetórias".

Todos esses dados são provenientes do Boletim Juventudes: Levantamento sobre estudo e trabalho da população juvenil no Brasil e no Rio Grande do Sul, produzido em parceria entre o Observatório Juventudes e o Data Social, ambos serviços da PUCRS. Os dados utilizados são da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio Contínua (PNADc - IBGE), acumulados na 1ª visita (2012-2019;2022-2023) e na 5ª visita (2020-2021). Acesse a pesquisa completa neste link.

O levantamento coincide com o Dia Internacional da Juventude, celebrado anualmente em 12 de agosto, e criado por iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU). O recorte etário utilizado é o do Estatuto da Juventude (Lei n º 12.852/2013), considerando jovens as pessoas entre 15 e 29 anos.

Para Dra. Patrícia Espíndola Teixeira, coordenadora do Observatório Juventudes, “muitas vezes, há uma ótica direcionada aos jovens que os culpabiliza unicamente pelas dificuldades que enfrentam, quando, na verdade, há uma complexidade de múltiplas estruturas precarizadas e inter-relacionadas que os impactam de modo excludente".

Outra questão sinalizada por Patrícia é a redução progressiva da população juvenil: “quanto menor o número de jovens, naturalmente é menor o lugar de representatividade juvenil e, concomitantemente, maiores os impactos na população ativa e nos cenários de qualificação e desenvolvimento, sobretudo quando esses dados se somam a fatia distanciada da educação e do trabalho".

Sobreposição de estudo e trabalho

Os dados tornam evidente, também, que a transição para a vida adulta no Brasil é, para a maior parte da nossa juventude, marcada pela sobreposição de estudo e trabalho. Mesmo no caso do Rio Grande do Sul, um dos estados mais desenvolvidos do país, o percentual de jovens que estudam e trabalham é de 19,9%.  Quando analisados somente jovens de 15 até 17 anos, aqueles que sobrepõem estudo e ocupação profissional somam 27,6%. Entre os jovens de 18 até 24 anos, a cifra é de 22,6%. E, finalmente, entre aqueles de 25 até 29 anos, fica em 12,1%.

De acordo com o prof. Andre Salata, “para o grosso da juventude brasileira, a transição para a vida adulta não segue o modelo tradicional, no qual o jovem primeiro termina os estudos para, então, ingressar no mercado de trabalho. Na verdade, essas duas esferas costumam se sobrepor, fazendo os jovens acumularem estudo e trabalho ao longo de vários anos. No Rio Grande do Sul não é diferente".

Diminuição da população jovem no Rio Grande do Sul

Outra seção do relatório mostra que o percentual de jovens na população gaúcha vem diminuindo ano a ano. Em 2012, no início da série histórica, os jovens de 15 até 19 anos respondiam por 24,1% da população gaúcha. Já no final da série, no ano de 2023, o percentual ficou em 20,2%.

Para Luiz Gustavo Tessaro, especialista do Observatório Juventudes da PUCRS, “há uma janela de oportunidade aberta. Enquanto o país e o estado passam por um processo de envelhecimento paulatino e de bônus demográfico, o momento é pertinente para lançar mão de políticas públicas que assegurem os direitos previstos no Estatuto da Juventude. Em substituição à produção de estereótipos geracionais contraproducentes e à culpabilização das juventudes pelas mazelas que as afligem, urge que se adotem iniciativas que tratem o jovem como verdadeira riqueza e potencial de uma sociedade. Investir no jovem hoje é investir na possibilidade de produzir crescimento não apenas econômico, mas em desenvolvimento social a médio e longo prazo".