A Comunidade La Valla 200 de Tabatinga, no Amazonas, recebeu mais um voluntário de Porto Alegre no último mês. Kassius Kirsten, coordenador administrativo-pedagógico do Colégio Marista Vettorello, trocou seu período de férias pelo voluntariado na cidade. Ele ficou em uma das comunidades mistas maristas do mundo.
“Foram 30 dias de convivência em uma Comunidade La Valla 200. Uma iniciativa marista de comunidades mistas internacionais, voltada para a experiência de vida comunitária e imersão no contexto local, que me ensinou a importância do respeito multicultural, do exercício do silêncio e da curiosidade em querer conhecer para compreender e respeitar", reforça o voluntário.
Tabatinga está localizada no oeste do Amazonas, na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. Por terra, faz fronteira com Letícia, cidade colombiana. Por água, faz fronteira com Santa Rosa, pequena ilha peruana. Antes de chegar no local, porém, Kassius conta que já havia se surpreendido quando viu a Floresta Amazônica da janela do avião. “Vi aquela imensidão verde, os rios como serpentes cortando a mata".
Quando começou a conhecer a cidade, outras cenas impactantes marcaram sua experiência. “O contexto de Tabatinga, marcada pela vulnerabilidade social, pelo isolamento na mata amazônica, pela violência que chega interessada nas rotas fronteiriças com Peru e Colômbia me fez pensar sobre o poder público. O abandono produzido intencionalmente pelo Estado transforma um contexto de belezas naturais extremas em angústia", relata o voluntário.
A situação da ilha de Santa Rosa é ainda mais sensível, como conta Kassius. “Crianças com desafios de desenvolvimento envolvendo uma alimentação absolutamente inadequada, o consumo de uma água do rio sem tratamento. O convívio com a exploração sexual, o tráfico de órgãos, drogas e pessoas. Os pais, que as deixaram com vizinhos para tentar a vida em outro lugar. Algumas crescem sem sequer saber sua idade e data de aniversário. Mas há quem se importe com elas. Há um irmão lassalista que vai à ilha todos os dias para tardes de reforço escolar e doses generosas de carinho, de importar-se. Os maristas se fazem presentes. Estamos onde devemos estar. Onde há uma criança com seus direitos privados, aí deve haver um marista".
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Há diversas parcerias entre as congregações religiosas na região. Em Tabatinga, os Irmãos Maristas estão presentes desde a década de 1990. A atuação se dá nas comunidades eclesiais, na acolhida de adolescentes e jovens na casa marista para formação intercultural, linguística e artística e na missão itinerante junto aos ribeirinhos em conjunto com outros missionários religiosos/as, sacerdotes ou leigos/as.
Kassius relata também sobre a experiência vivenciada em um dos trabalhos realizados pela Comunidade La Valla 200. “A cozinha solidária, coordenada pela maior parte da Comunidade de La Valla 200, onde fiquei. Semanalmente um almoço cheio de sabor e de carinho feito para alimentar quem veio tentar viver no lixão a céu aberto de Tabatinga. São em sua maioria peruanos. Os rostos não são estranhos, mas marcam uma vida sofrida. Estamos ali também sendo uma presença significativa e cheia de carinho pelas pessoas".
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Após um mês em território amazonense, Kassius afirma que o voluntariado é uma abertura para si mesmo, e não para o outro. “Essa frase pode parecer um pouco forte em um primeiro momento, mas é exatamente o que eu sinto quando penso no tamanho da experiência que tive em um mês de voluntariado na região amazônica".