Ao longo desta semana, os/as colaboradores/as que atuam no Serviço de Pastoral da Rede Marista participam de uma série de atividades formativas. Intitulada Encontros Pastorais. Os eventos têm como temática transversal o Pacto Educativo Global, um apelo do Papa Francisco para uma educação integral aberta e inclusiva, capaz de escuta paciente, diálogo construtivo e mútua compreensão.
O encontro desta terça-feira, 9/3, contou com a presença do Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre, Dom Leomar Brustolin, que é referencial para a Educação e Cultura da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Regional Sul 3. Em sua fala, ele apresentou o pacto a partir das Diretrizes da Igreja no Brasil, abordando como essa proposta se traduz na prática da atuação dos/as pastoralistas em seus espaços de missão.
“Para aplicar o pacto, a pastoral não deverá cuidar apenas de dimensões religiosas, ela deverá ajudar a formar a consciência dos professores, dos/as estudantes e inclusive das direções. Não a partir dos seus critérios, mas a partir do evangelho", ressalta o bispo.
“É preciso ter coragem para superar estruturas que não dão mais conta da realidade"
Antes do encontro com os/as pastoralistas, Dom Leomar deu uma entrevista exclusiva para a Rede Marista falando mais detalhes sobre o pacto. Ele explicou que o contexto que levou a construção dessa proposta está na encíclica Laudato si'. Segundo o bispo, o Papa Francisco afirma que as ações para construção de uma ecologia integral só vão ocorrer se houver um novo compromisso com a educação. “Francisco percebe que a própria educação precisa rever alguns parâmetros, algumas opções para superar uma grande crise que o Papa chega a dizer que é uma catástrofe educativa mundial", explica.
Diante desse contexto, o Papa Francisco propõe a criação de uma aldeia educativa em que é possível tecer, na diversidade, uma rede de relações humanas e abertas, o que, de acordo com Dom Leomar, pressupõe rejeitar as chamadas ilhas educativas. “Não adianta termos uma educação de qualidade numa escola da cidade, se do lado tem uma escola carente de recursos e de propósitos, por isso é necessário pensar integralmente, unir forças para superarmos a privatização de interesses", salienta o bispo.
Para Dom Leomar, a proposta do pacto se apresenta como uma resposta aos desafios enfrentados tanto por escolas públicas quanto privadas/confessionais. “A Campanha da Fraternidade do ano que vem vai tratar a temática da educação, e toda ela será a partir do Pacto Educativo Global. Assim, será possível atingir as instituições de ensino de forma ampla em todo o Brasil", destaca.
Confira abaixo outros trechos da entrevista realizada com Dom Leomar Brustolin:
De que forma nós, como instituição, podemos colaborar para que o pacto se faça concreto no dia a dia, levando em consideração toda a diversidade existente na atuação da Rede Marista?
Os sete compromissos propostos pelo Papa no pacto precisam ser acolhidos com criatividade e ousadia. Criatividade para dizer que o que é feito no Rio Grande do Sul não pode ser feito de igual forma no Amazonas. Ter ousadia é ter coragem de superar estruturas que não dão mais conta da realidade e ser capaz de escutar o que está acontecendo. É preciso um novo ânimo e um novo compromisso com a realidade.
Em sua mensagem sobre o pacto, o Papa Francisco fala justamente na coragem para, entre outros aspectos, formar pessoas disponíveis para o serviço. O que é necessário para desenvolver isso?
Primeiro de tudo é educar para a empatia. Educar para a capacidade de escutar e enxergar o outro e aí interferir. O papa fala de coragem para romper alguns esquemas mentais que existem em nós de forma muito consolidada e, para isso, é preciso desenvolver a coragem para superar alguns pontos e superar o individualismo que existe em nós. Neste sentido, colocar o serviço como centro é inovar. É educar com o coração de forma que a interioridade da pessoa e a sua essência sejam consideradas.
Como cada pessoa pode aplicar o que o pacto propõe no seu dia a dia?
Penso que três palavras formam três pedagogias que contribuem para isso. A primeira é a pedagogia da proximidade. Se nós não estivermos próximos, não adianta querer ensinar. A segunda é escutar o outro. Pedagogia da proximidade para desenvolver a pedagogia da escuta, pois escutar o outro é fundamental para ter o mínimo de proximidade e desenvolver a terceira pedagogia, que é nós entrarmos em relação, em diálogo. Tudo isso representa uma revolução na nossa forma de pensar.