A crise é uma situação problemática que exige uma tomada de decisão, e cabe a cada pessoa discernir como irá encarar esse momento. Algumas optam por lidar de forma reativa, o que pode levar ao caos. Por outro lado, existem aquelas que atuam proativamente, procurando novas alternativas que levarão a um horizonte promissor.
Nesse sentido, foi de forma destemida e audaz que Marcelino Champagnat encarou diversas crises. Sua vida, assim como a de todo ser humano, não foi isenta de episódios de dificuldades, em que foram necessárias tomadas de decisões conscientes, responsáveis e, por que não dizer, visionárias. Sua infância marcada pelo contexto histórico da Revolução Francesa, fez com que o pequeno filho de camponeses crescesse em meio às dores da morte, da guilhotina e das rebeliões. O momento político no qual a sociedade clamava por novas respostas também motivou Marcelino a buscar outras alternativas para a sua vida, de forma que ele pudesse ser útil para as pessoas. Foi a partir de um contexto de adversidade social que nasceu o grande desejo do padre Champagnat em tornar Jesus Cristo conhecido e amado pelos jovens.
Outro fato transformador na história da obra marista, também acelerado por um contexto de crise social/política, foi o início da internacionalização do Instituto Marista. Durante o ano de 1903, os Irmãos Maristas precisaram deixar a França e se exilaram em outros países, para poder continuar a missão de evangelizar crianças e jovens por meio da educação. Essa foi a alternativa encontrada para que o trabalho do Instituto continuasse vivo, visto que na França o governo havia determinado que o ensino seria totalmente laico, ou seja, os Irmãos Maristas não poderiam mais ter instituições de ensino confessionais.
Olhar para esse cenário hoje nos faz perceber como a solução de um grande problema possibilitou nascer uma das características mais fortes da nossa instituição: a interculturalidade e a atuação como família global. A reflexão sobre esses e outros tantos fatos enfrentados por São Marcelino Champagnat e pelos Irmãos, que lideraram o Instituto Marista ao longo de mais de 200 anos, nos alertam sobre como a determinação e a liderança são importantes para mitigar os efeitos de uma crise e, mais do que isso, são experiências necessárias para superar grandes problemas e encontrar oportunidades de mudança e crescimento.
Em todos esses episódios, Champagnat sempre entregou a obra marista nas mãos de Maria para que ela protegesse e guiasse seu futuro. Diversas foram as adversidades encontradas no caminho, mas todas elas foram enfrentadas com persistência e acreditando que o futuro sempre pode nos trazer novos aprendizados.
Colaboraram para essa reflexão: Ir. Inacio Etgues, presidente da Rede Marista, Ir. Claudiano Tiecher, diretor do Colégio Marista Santo Antônio, e Gabriela Figurelli Carmo, museóloga e bibliotecária do Centro de Espiritualidade de Memória Marista.
Um olhar sobre a crise em diferentes contextos
O Seminário de Governança e Gestão da Rede Marista reúne anualmente os principais gestores da instituição para discutir temas de relevância para os empreendimentos. Neste ano de pandemia, o tema não poderia ser diferente: como enfrentar a crise e seus impactos nos diferentes segmentos.
Para promover discussões preparatórias para o evento, a comissão organizadora convidou Irmãos e colaboradores/as maristas para fazerem reflexões sobre a temática em diferentes dimensões temporais: crises no passado, no presente e sobre o que o horizonte nos reserva no futuro.
O relato descrito acima, rememora algumas crises enfrentadas por Marcelino Champagnat da sua infância até assumir a liderança do Instituto Marista. Durante a próxima semana, serão publicadas outras reflexões falando sobre o olhar para a crise atual e as perceptivas que esperamos para o futuro.