O educador popular Pedro Figueiredo, 67 anos, completou seu primeiro ano como voluntário marista em Manaus, no Amazonas. Com a serenidade de quem já percorreu muitos caminhos, ele escolheu recomeçar — não por necessidade, mas por serviço e solidariedade.
Depois de décadas dedicadas à militância social, Pedro encontrou no Voluntariado Marista um novo sentido para o tempo, agora livre da rotina profissional. Inspirado pelo chamado do Papa Francisco, pelos ensinamentos adquiridos ao lado do Ir. Antônio Cecchin, em 1982, nas ações junto às Comunidades Eclesiais de Base, em Porto Alegre, e tocado pela dor dos povos esquecidos, Pedro partiu rumo a Manaus em abril de 2024, levando consigo uma bagagem de sabedoria e esperança.
O Voluntariado, para Pedro, é mais do que ação: é entrega, comunhão, amor em movimento. Nesta entrevista, ele nos convida a ver o mundo pelos olhos de quem acredita que o tempo pode, sim, ser doado. E que há beleza em dedicar-se à Casa e ao bem Comum.
Rede Marista – Como surgiu o interesse em fazer voluntariado?
Pedro Figueiredo – Em outubro de 2017, o Papa Francisco convocou o Sínodo da Amazônia, chamando a atenção do Brasil e do mundo sobre as questões, sobretudo pastorais e ecológica, da região norte do Brasil e dos países que dela fazem parte. Diante do genocídio em curso do povo Ianomami denunciado no início de 2023, houve a provocação do Ir. Miguel Orlandi para ser missionário. Aposentado em 2023, com os pais já falecidos e a independência financeira do filho, decidi colocar minha experiência a serviço do (projeto da Rede Marista) Querida Amazônia. Depois de algumas avaliações feitas com amigos e pessoas envolvidas em trabalhos na região, decidi pela inserção em Manaus, na capital do Amazonas, na Comunidade dos Irmãos.
Rede Marista – Há quanto tempo já está fazendo voluntariado e quanto mais pretende ficar?
Pedro Figueiredo – Firmei um contrato com os Irmãos por dois anos, findando em abril 2026. Se tudo der certo com minha saúde, pretendo ficar até os 70 anos.
Rede Marista – Quais são as principais atividades que realiza no dia a dia?
Pedro Figueiredo – Minha experiência de 30 anos de militância, na busca de alternativas de renda para trabalhadores/as desempregados/as na década de 1980, e diante das contingências históricas, fui me inserindo nos processos de estruturação da Economia Popular e Solidária na região metropolitana de Porto Alegre, junto ao Centro de Assessoria ao Movimento Popular (Camp). Teve também o encontro com o Ir. Antônio Cecchin – incansável lutador pelas causas ecológicas –, então desde 1982 fui, aos poucos, me inserindo nas atividades de Economia Solidária nos espaços de reciclagem de resíduos sólidos. Participei da criação, acompanhamento e fortalecimento de várias associações e cooperativas de recicladores em Porto Alegre e na região metropolitana.
A maioria dos municípios do Amazonas convive com a tragédia ambiental dos lixões a céu aberto. Como vivemos em um estado onde as águas e a floresta estão no centro do debate sobre as questões ambientais, os lixões representam um problema com grande impacto ambiental. Trabalho de forma direta e permanente com comunidades eclesiais, associações comunitárias e junto às populações de periferia engajadas em inúmeras organizações sociais, na divulgação e implementação de composteiras domésticas domiciliares, na perspectiva de tirar o máximo possível de resíduos orgânicos da cadeia de envenenamento de lençóis freáticos e igarapés. Essas atividades fazem parte das ações de Ecologia Integral que, aos poucos, se estrutura como pastoral na Arquidiocese de Manaus, tendo como foco primordial atividades de educação ambiental da população em geral.
Aos domingos, ajudo na Pastoral Povo da Rua, da Arquidiocese de Manaus; 100 pratos são servidos a pessoas que, durante a semana, são acompanhadas na casa de acolhida junto à Igreja dos Remédios, no centro antigo da capital manauara.
Rede Marista – O que mais chamou sua atenção ao longo do processo?
Pedro Figueiredo – A pobreza do povo Manauara na informalidade de suas atividades econômicas e a sua permanente alegria e disponibilidade. É um povo possuidor de uma cultura colaborativa impressionante!
Muitas associações de apoio, ajuda mútua e grupos de todos os tipos de convivência humana. No centro velho de Manaus, perambulam de 800 a mil moradores de rua.
Um calor que desidrata o corpo todo. A água escorre pelo corpo todo, molhando o papel que está na mão. Aqui a gente cansa mais, pois os sais minerais vão escorrendo pelo corpo todo.
Rede Marista – Quais são os principais desafios?
Pedro Figueiredo – Transporte público, trânsito caótico, suportar o sol entre 10h e 15h.
Rede Marista – Por que indicaria o trabalho voluntário para outras pessoas?
Pedro Figueiredo – Ao longo da vida, acumulamos saberes e exercitamos resistências do corpo e das mais diversas formas de contingências humanas. Colocar essas experiências a serviço dos outros, além de ajudar os irmãos em situações diversas, fortalece nossa saúde mental e prepara nosso corpo para os grandes embates com a saúde e o bem-estar na velhice.
—————————-
Foto principal: construção de composteiras.





